O jornalista André Caramante construiu carreira como repórter com foco em Direitos Humanos, Justiça e Segurança Pública e na Cultura Urbana. Na última década, foi repórter e chefe de redação do Núcleo de Jornalismo Investigativo da Record TV e responsável pela direção de conteúdo do Portal R7.
Ao longo de 27 anos no jornalismo, André Caramante denunciou a atuação de diversos grupos de extermínio formados por membros das forças de segurança e contribuiu para a libertação de dezenas de pessoas presas injustamente. Hoje, Caramante é um dos integrantes do Mundo True Crime.
True Crime e jornalismo investigativo: conexões e riscos
A trajetória jornalística de André Caramante também esteve profundamente conectada aos movimentos culturais das periferias, especialmente à cena do Hip Hop, aos saraus e às expressões artísticas urbanas, que sempre encontrou, escutou e valorizou como formas legítimas de denúncia, resistência e transformação.
André Caramante atuou por quase 15 anos no Grupo Folha de S.Paulo, com passagens pelos veículos Folha de S.Paulo, Folha.com, TV Folha, Agora SP e Notícias Populares. Também escreveu para os jornais Diário Popular/Diário de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e Lance.
Colaborou com as revistas Rolling Stone, Quatro Rodas, Caras, Veja, Venice e Rock Press.
Caramante É autor do livro-reportagem “Aqui Dentro – Páginas de Uma Memória: Carandiru” (2003) e responsável pela edição de “Mães em Luta: Dez Anos dos Crimes de Maio de 2006” (2016). Também sou um dos autores convidados no livro “Pra Quem Já Mordeu Cachorro por Comida, Até que eu Cheguei Longe…“ (2019), do rapper Emicida.
No começo dos anos 2.000, André Caramante passou dois anos atuando como jornalista-documentarista dentro da Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru, maior presídio da América Latina até sua desativação. Com autorização formal do Estado e o consentimento dos detentos, percorreu diariamente os sete pavilhões da Detenção para registrar rotinas, crenças, códigos, histórias e vozes silenciadas.
Dessa experiência intensa nasceu o livro “Aqui Dentro – Páginas de uma Memória: Carandiru (2003)”, organizado por Maureen Bisilliat a partir de depoimentos colhidos por mim e por Sophia Bisilliat, com fotografias de João Wainer e Pedro Lobo.
A obra reúne entrevistas e narrações espontâneas de presos, funcionários e diretores da Casa de Detenção, abordando temas como solidão, saúde, lealdade, amizade, amor, justiça e sobrevivência, compondo um retrato profundo e humano do cotidiano carcerário.
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Desse mesmo trabalho também emergiu a exposição “Sobrevivências: uma exposição Sobre Vivências: Carandiru”, que retratou a vida cotidiana e os objetos de sobrevivência criados pelos presos. A mostra foi apresentada no MCB (Museu da Casa Brasileira) e contribuiu para ampliar o alcance da memória e da reflexão sobre o sistema prisional brasileiro.
Em continuidade ao trabalho de documentação realizado no Carandiru, André Caramante contribuiu para a criação do Espaço Memória Carandiru, inaugurado em 2018 no antigo Pavilhão 4 da Casa de Detenção, hoje parte da ETEC Parque da Juventude.
O espaço abriga um acervo composto por objetos, documentos e registros audiovisuais que testemunham o cotidiano dos detentos e a complexa história do presídio. Além de exposições permanentes e temporárias, o Espaço Memória serve como laboratório para o curso técnico de Museologia, promovendo atividades educativas e preservando a memória das pessoas que viveram naquele ambiente.
Toda a vivência como repórter durante os dois anos dentro do Carandiru está registrada em vídeo, compondo um acervo de mais de 120 horas de entrevistas e imagens que documentam de forma intimista o cotidiano da prisão.
Esse material bruto reúne depoimentos de presos, funcionários, lideranças internas e registros visuais dos espaços, objetos e rituais da Casa de Detenção. As gravações, feitas com escuta ativa e respeito, revelam um retrato cru e humano da vida encarcerada — com suas dores, códigos, resistências e silêncios — e permanecem como uma das documentações mais profundas e sensíveis já realizadas sobre o sistema carcerário brasileiro.
Em 2015 e 2016, André Caramante integrou, como jornalista da Ponte Jornalismo, uma experiência pioneira de escuta e produção de conhecimento com a população em situação de rua, conduzida pela organização Sur em parceria com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo. Atuamos na formação de dez pesquisadores sociais — todos com vivência direta nas ruas — que, remunerados, participaram de um ciclo formativo semanal composto por grupos terapêuticos, oficinas com psicólogos e encontros jornalísticos coordenados por nossa equipe.
Nessa vivência, André Caramante ajudar a desenvolver técnicas de entrevista, leitura crítica da cidade e elaboração de narrativas a partir de vivências territoriais. O projeto resultou em relatos poéticos, etnográficos e jornalísticos que denunciaram a invisibilidade social e a violência institucional, além de subsidiar a elaboração do Plano Municipal de Políticas para a População em Situação de Rua. Essa experiência radical de escuta, cuidado e coprodução de saber reafirmou seu compromisso com um jornalismo sensível, participativo e transformador.
Ao longo da carreira, André Caramante alguns reconhecimentos, como o Prêmio Folha de Reportagem em 2011, o Prêmio Santo Dias em 2012 e o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, concedido pela Presidência da República em 2013 – a mais alta condecoração do país na área. Em 2022 e 2023, liderei a equipe vencedora do Prêmio Record de Jornalismo, na categoria Reportagem Especial. Também foi agraciado, em duas ocasiões, com o Prêmio Don Quixote de La Perifa, concedido pela Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia).
Além disso, André Caramante é um dos fundadores da Ponte Jornalismo — veículo independente criado para investigar e denunciar violações de direitos, valorizar as vozes historicamente silenciadas e tensionar o olhar da grande imprensa sobre as periferias. A Ponte nasceu do compromisso com um jornalismo que não se curva, que ouve quem nunca foi ouvido, e que transforma dor em denúncia. O trabalho se tornou referência em cobertura crítica das forças de segurança e em narrativas de resistência.
A atuação da Ponte Jornalismo é marcada por sua independência, compromisso com os direitos humanos e inovação na forma de produzir e distribuir conteúdo jornalístico, consolidando-se como uma voz crítica e necessária no cenário midiático brasileiro. Nos últimos anos, também atuou como consultor editorial da Ponte, contribuindo com a formação de repórteres, desenvolvimento de pautas e aprimoramento da linha editorial do veículo.
Caramante colaborou na concepção, produção e edição executiva do podcast “Prove Sua Inocência”, realizado pela Ponte Jornalismo em parceria com a Fundação Heinrich Böll.
A série em sete episódios mergulhou nas engrenagens racistas e seletivas do sistema de justiça criminal brasileiro, por meio de casos reais de jovens negros e periféricos presos injustamente.
Com base em investigações rigorosas, o podcast revelou padrões de ilegalidade nas abordagens policiais, falhas em reconhecimentos e prisões arbitrárias, além da omissão das instituições responsáveis por garantir o devido processo legal.
Cada episódio reafirmou o jornalismo como arma contra o silêncio institucional e a impunidade.
A trajetória de Caramante no jornalismo sempre esteve conectada à cultura urbana e ao diálogo com a periferia. Entre 2001 e 2014, assinou a coluna “Da Rua”, publicada no jornal Agora SP, onde abordou de forma constante o universo do Hip Hop, os movimentos sociais da quebrada, a luta por direitos civis e as expressões culturais que emergem das margens da cidade.
Essa escuta ativa da rua e de seus protagonistas fortaleceu a convicção de Caramante sobre o papel transformador da cultura nas periferias urbanas. O jornalista acredita no jornalismo como ponte entre territórios populares e a esfera pública, e constrói narrativas que respeitam a identidade, a voz e a potência da juventude periférica.
A partir dessa vivência, Caramante tem atuado também como curador e colaborador em projetos culturais que celebram essa identidade urbana — como a exposição “Racionais: O Quinto Elemento” no Museu das Favelas, vencedora do Prêmio APCA 2024 (Associação Paulista de Críticos de Arte).
Também participou das ações em parceria com a Red Bull que comemoraram os 30 anos do grupo Racionais MC’s, incluindo uma entrevista transmitida ao vivo com pico de 800 mil espectadores online.
Esses projetos reafirmam a crença de Caramante de que cultura e comunicação não apenas disputam memória e visibilidade — elas também criam caminhos concretos de dignidade e pertencimento.
Caramante participou ainda da produção e execução dos DVDs “100% Favela” (2006) e “Projeto 12 de Outubro Hip Hop pela Paz” (2010), projetos audiovisuais que reuniram nomes expressivos do Hip Hop brasileiro, reafirmando o protagonismo cultural das periferias.
Também dirigiu o videoclipe “Monstro Invisível” (2020), encontro inédito entre Sabotage e MC Hariel. Realizou a contextualização jornalística de “Chapa” (2016), videoclipe de Emicida. E ajudei na captação de imagens para o DVD “Mil Trutas Mil Tretas” (2006), do Racionais.
O jornalista tem compartilhado essa trajetória em fóruns internacionais e universidades. Foi palestrante no London Symposium on Media Freedom and Safety of Journalists, promovido pela BBC Media Action e University of Sheffield, em Londres, e também no fórum da NSU – Network of Safety for Journalists, em Berlim, ao lado de repórteres de zonas de guerra e contextos de censura, vindos de países como Ucrânia, Afeganistão, Iêmen, Síria, Irã, Sudão e Venezuela.
No Brasil, participou de eventos como o Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e a Semana de Jornalismo da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), e foi palestrante em instituições como ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo), Cásper Líbero, Universidade Presbiteriana Mackenzie, Metodista, ESPM-SP (Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo) e FIAM-FMU (Faculdades Integradas Alcântara Machado – Faculdades Metropolitanas Unidas).
Nesses encontros, compartilhou não apenas investigações, mas também caminhos possíveis de escuta, denúncia e transformação social.
Em 2022, esteve no podcast Mano a Mano, apresentado por Mano Brown, um dos maiores símbolos do rap nacional. No episódio, compartilhou reflexões sobre violência policial, violência de Estado, justiça seletiva, o papel da imprensa na defesa dos direitos humanos e a força da cultura periférica como instrumento de denúncia e resistência. Foi uma conversa direta, atravessada por vivências pessoais que marcaram a trajetória de Caramante como jornalista.
Quem é André Caramante? Jornalista investigativo com 27 anos de carreira, focado em Direitos Humanos, Justiça e Segurança Pública.
Quais áreas ele mais investiga? Violência de Estado, crime organizado, sistema penitenciário e accountability do sistema de justiça.
Quais prêmios ele recebeu? Prêmio Folha de Reportagem, Santo Dias, Nacional de Direitos Humanos, Record de Jornalismo e Don Quixote (Cooperifa).
Onde ler seus trabalhos? No Mundo True Crime e em veículos pelos quais passou.
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