Gari da Madrugada, o homem que levava o peso das almas, é suspeito de ser o serial killer de Rio Verde

Rildo Soares confessou 3 feminicídios, segundo a polícia, e é suspeito de ser um serial killer com mais 15 crimes. Ele usava uniforme de gari como disfarce para andar de madrugada sem despertar suspeitas

Sumário

Summary

True crime: Rildo Soares, chamado de "gari de madrugada", segundo a polícia, aterrorizou Rio Verde (GO), com pelo menos três feminicídios e é investigado por mais 15 crimes, incluindo cinco homicídios sem solução na Bahia.

True crime e investigação se cruzaram nas primeiras horas de 11 de setembro de 2025, no Bairro Popular de Rio Verde, em Goiás, quando Elisângela Silva de Souza, de 26 anos, saiu de casa às quatro da manhã para mais um dia de trabalho — e não voltaria nunca mais. Durante os 34 minutos seguintes, ela foi mantida em um terreno baldio, segundo a polícia, até ser morta por Rildo Soares dos Santos — investigado sob suspeita de ser o Serial Killer de Rio Verde, também chamado de Gari da Madrugada.

Rildo Soares dos Santos vestia uniforme de gari para enganar tanto policiais quanto vítimas. Meses antes, sussurrava à esposa frases como “carrego o peso de almas” e “não suporto arrastar corpos”. Isso chama ainda mais a atenção para o caso de true crime.

Natural de Salvador e com 33 anos, Rildo Soares cometeu, naquela madrugada, de acordo com a investigação, o erro que definiria seu fim e o colocaria como investigado como serial killer de Rio Verde. No dia seguinte, 12 de setembro, não resistiu ao impulso de voltar ao terreno onde havia enterrado o corpo dela. Queria ver o trabalho da polícia: observar investigadores isolando a cena do true crime e sentir novamente o prazer perverso de circular no local onde semeara horror e morte, ainda de acordo com os policiais.

Foi essa vaidade criminosa — traço típico de assassinos em série — que levou à sua captura, segundo os investigadores do true crime. Ao retornar ao antigo lava-jato, Rildo Soares foi avistado, do outro lado da rua, pelos policiais em diligência. Tentou fugir, mas era tarde demais. Os oito meses de terror em Rio Verde finalmente chegaram ao fim e ele passou a ser tratado como o Gari da Madrugada, o serial killer.

Rildo Soares dos Santos, suspeito de ser o serial killer de Rio Verde (GO), com óculos escuros e camiseta verde dentro de um carro.
De acordo com a polícia, Rildo Soares dos Santos é o “Gari da Madrugada”, o serial killer que agiu por oito meses em Rio Verde (GO), e admitiu ter matado ao menos três mulheres – Foto: Redes Sociais — uso editorial

A história de Rildo Soares não começou em Goiás. Segundo a polícia, ela vem sendo escrita desde 2017, na Bahia, onde ele é apontado em inquéritos como possível autor de cinco homicídios não resolvidos antes de se mudar para o Centro-Oeste. Em Rio Verde, a investigação do true crime descreve um cenário em que seus impulsos violentos encontraram espaço — uma demonstração de maldade pura, sem indícios de transtorno mental ou surto psicótico.

Esta é uma reconstituição jornalística de como um homem aparentemente comum — casado, com carteira de trabalho assinada, título de eleitor e etc— passou a ser investigado por uma série de homicídios que espalhou medo pela cidade de Rio Verde. É também a história de mulheres cuja rotina foi invisibilizada pelo Estado e que foram vistas por Rildo como alvos preferenciais.

Primeiros sinais da maldade

Janeiro de 2025. Rildo Soares desembarca em Rio Verde fugindo de ameaças na Bahia. Oficialmente, vinha atrás de oportunidades de trabalho. Na prática, segundo a polícia, procurava um território virgem onde pudesse recomeçar sua trajetória sem o peso do passado. Deixava para trás uma esposa – legalmente ainda casados, embora separados de fato – e um histórico policial que incluía roubo, estupro, homicídio e violência doméstica. Nenhum crime solucionado.

A esposa só entenderia a dimensão do que havia vivido meses depois, quando o true crime veio à tona. Em depoimento à Polícia Civil, ela revelaria detalhes que fazem o sangue gelar. Rildo falava obsessivamente sobre morte, sobre almas que o atormentavam, sobre corpos que precisava arrastar. Ela interpretava como excentricidades. Era um homem gentil no cotidiano, cordial, que nunca praticou violência doméstica contra ela.

Sob efeito de drogas, porém, ele se transformava completamente. Tornava-se outra pessoa. Uma pessoa sombria que falava sobre peso nas costas, sobre responsabilidades macabras, sobre um fardo que apenas ele carregava. A mulher chegou até mesmo a transferir dinheiro via PIX para uma das futuras vítimas a pedido dele, sem saber que estava financiando o próprio algoz da mulher.

Disfarce perfeito

Uniforme de gari, celular e caderno fotografados; itens relacionados à investigação em Rio Verde (GO)
Segundo a investigação, o suspeito usava uniformes de limpeza urbana para circular de madrugada sem levantar suspeitas – Foto: Polícia Civil de Goiás — uso editorial

Rildo havia trabalhado por alguns dias em uma empresa de limpeza urbana de Rio Verde, embora não tenha sido efetivado. O período foi suficiente para que aprendesse as rotinas do serviço e, principalmente, para que obtivesse uniformes. Descobrira a identidade perfeita para circular de madrugada sem despertar suspeitas: a de um trabalhador honesto cumprindo seu turno, outro forte elemente para o true crime no qual acabou envolvido como o Gari da Madrugada.

Entre três e seis da manhã, quando as ruas ficam desertas e apenas trabalhadores da limpeza circulam pelo Bairro Popular, um homem vestido de gari era invisível tanto para policiais quanto para possíveis vítimas. O disfarce não apenas facilitava sua movimentação como também o ajudava na abordagem. Quem desconfiaria de um funcionário da limpeza pública?

A estratégia revelava um nível de planejamento no true crime que afastava qualquer hipótese de crimes por impulso, segundo os policiais. Rildo estudava o terreno, conhecia os horários, mapeava as rotas. Escolhia criteriosamente suas vítimas com base na vulnerabilidade social delas. Mulheres em situação de rua, dependentes químicas, trabalhadoras que saíam de casa na madrugada. Gente que, se desaparecesse, demoraria para ser procurada.

Serial Killer de Rio Verde (GO) com uniforme de limpeza urbana caminha na calçada; imagem de câmera de segurança, desfocada.
Imagem de câmera de segurança mostra, segundo a polícia, Rildo Soares, chamado de Serial Killer de Rio Verde, circulando pela cidade com uniforme de gari – Imagem: Polícia Civil de Goiás – uso editorial

Serial killer de Rio Verde e true crime: um catálogo do horror

O último true crime de atribuído a Rildo seria também o mais documentado. As câmeras de segurança captaram o momento exato em que ele se aproxima de Elisângela na rua. Ela caminha despreocupada em direção ao trabalho. Ele a segue alguns metros atrás, vestido com o uniforme de gari que se tornara sua marca registrada.

O que aconteceu nos 34 minutos em que permaneceu no local pode ser reconstituído pela perícia médico-legal. Elisângela foi conduzida para um terreno baldio onde funcionava um antigo lava-jato. Ali, Rildo a esganou até que ela desmaiasse. Em seguida, desferiu inúmeros golpes na cabeça da vítima, desfigurando completamente seu rosto. A violência foi tão brutal que os peritos não conseguiram estimar o número exato de pancadas.

O corpo foi encontrado num buraco de cimento, parcialmente coberto por pedras e terra. Elisângela estava sem as roupas íntimas – assinatura que se repetiria em todos os feminicídios atribuídos a Rildo. O exame de DNA confirmaria que ela foi violentada sexualmente antes de morrer. Quando questionado sobre o crime, Rildo alegou que ela havia caído e batido a cabeça. A perícia desmentiu categoricamente a versão.

8 casos de True Crime que chocaram o mundo

Montagem com três retratos femininos; vítimas reconhecidas no caso investigado em Rio Verde (GO), segundo a polícia.
Segundo a investigação, Monara Pires Gouveia, Alexânia Hermógenes Carneiro e Elisângela da Silva Souza foram mortas por Rildo Soares, apontado como o Serial Killer de Rio Verde, em Goiás

Feminicídio: Monara, a mulher queimada viva

Monara Pires Gouveia Moraes tinha 31 anos e vivia em situação de rua no Bairro Popular. Dependente química, mantinha o hábito de visitar a mãe diariamente – ritual que permitiu que seu desaparecimento fosse rapidamente notado. Diferentemente de outras vítimas de Rildo, Monara não foi encontrada morta de imediato. Simplesmente desapareceu.

Meses depois, durante os interrogatórios, informaram os policiais, Rildo confessaria friamente o que havia feito com ela. Segundo suas próprias palavras, ele aplicou “duas cacetadas” na cabeça de Monara e, em seguida, ateou fogo nela ainda viva. A mulher estava consciente quando começou a queimar. O motivo alegado por Rildo: Monara havia furtado seiscentos reais dele.

Alexânia: o primeiro feminicídio

Alexânia Hermógenes Carneiro, 40 anos, também dependente química, foi a primeira vítima de feminicídio oficialmente confirmada no prontuário de Rildo em Goiás, de acordo com a investigação do true crime. Morta em julho de 2025, foi encontrada espancada e enterrada em um terreno baldio. Como as demais, estava sem roupas da cintura para baixo.

O que motivou seu assassinato, segundo Rildo, foi a descoberta de que ela havia comprado drogas usando o nome dele. A justificativa é reveladora: demonstra que o criminoso estabelecia relações com as vítimas antes de matá-las. Não eram crimes aleatórios ou por oportunidade. Havia um padrão de aproximação, criação de vínculos e posterior eliminação.

Alexânia se encaixava perfeitamente no perfil das vítimas preferenciais de Rildo: mulher em situação de vulnerabilidade social, dependente química, que circulava sozinha pelas madrugadas na região onde ele atuava. Era, nas palavras atribuídas a ele pelos investigadores, parte de um grupo que ele tratava como “lixo descartável”.

Desaparecidas e troféus: perfil de serial killer

Ingrid Ferreira Barbosa Romagnoli tinha 38 anos quando desapareceu em 29 de agosto de 2025. Dependente química como as demais vítimas, ela visitava a mãe religiosamente todos os dias. Quando faltou ao compromisso diário, a família imediatamente percebeu que algo estava errado. O desaparecimento foi comunicado à polícia, mas Ingrid jamais foi encontrada.

A conexão entre seu desaparecimento e Rildo foi estabelecida de forma dramática durante a investigação do true crime. Quando os policiais fizeram a busca na residência do suspeito, encontraram o que classificaram como uma “cena assustadora”: mais de oito bolsas femininas, múltiplas bonecas (numa casa onde não moravam crianças) e facas escondidas em diversos pontos estratégicos.

Objetos diversos — bolsas, brinquedos e facas — expostos após apreensão policial em Rio Verde (GO).
Bolsas, bonecas e facas dispostas no chão; itens apreendidos, segundo a polícia, na casa de Rildo Soares, o Gari da Madrugada – Foto: Polícia Civil de Goiás – uso editorial

Entre as bolsas estava a de Ingrid. Sua mãe a reconheceu imediatamente quando foi chamada pela polícia para identificar os objetos apreendidos. Era uma prova física irrefutável de que Rildo havia tido contato com sua filha. O celular de Ingrid foi localizado a apenas vinte metros de onde outra vítima havia desaparecido. Rildo, confrontado com a evidência, não descartou ter cometido crime contra ela, mas alegou não se recordar dos detalhes.

True crime com uma casa dos horrores

A residência onde Rildo morava com um colega revelou-se um verdadeiro museu de horrores de um true crime. Além das bolsas femininas e bonecas inexplicáveis, havia roupas íntimas das vítimas guardadas como troféus. Celulares de pessoas assassinadas. Chaves de carros roubados. Facas escondidas em locais estratégicos da casa.

O colega de residência, Josenilton, quase se tornou mais uma vítima no circuito do true crime. Relatou à polícia que Rildo tentou invadir seu quarto às três da madrugada portando uma faca. Apenas conseguiu se defender porque estava com um martelo na mão e ameaçou reagir. A tentativa de ataque não tinha motivação aparente, confirmando o padrão de violência gratuita que caracterizava o comportamento de Rildo.

Neilma: o registro tardio

Neilma de Souza Carvalho, 43 anos, representa uma das facetas mais cruéis do caso: a invisibilidade social das vítimas. Seu desaparecimento foi registrado tardiamente na polícia, o que dificultou as buscas e as investigações. Quando finalmente foi incluída na lista de possíveis vítimas de Rildo, já havia se passado tempo demais para estabelecer conexões claras.

O caso de Neilma ilustra um problema sistêmico: mulheres em situação de vulnerabilidade social, especialmente dependentes químicas, têm seus desaparecimentos tratados com menor urgência pelas autoridades. Isso pode criar um ambiente propício para a atuação de serial killers, que sabem identificar vítimas cujo sumiço não gerará pressão imediata sobre a polícia.

Assinatura do fogo

Se há uma característica que distingue Rildo de outros serial killers é sua relação compulsiva com o fogo. O delegado Adelson Candeo, responsável por investigar o true crime, foi categórico ao afirmar que “ele tem essa coisa com fogo, precisa colocar fogo em algo”. A piromania não era apenas um meio de destruir evidências – era fonte de prazer sádico.

Todos os crimes atribuídos a Rildo envolveram fogo de alguma forma. Nos estupros, ele queimava as vítimas. Nos homicídios, incendiava os corpos. Nos roubos, colocava fogo nos veículos. Chegou ao extremo de incendiar a casa de uma das vítimas. O fogo era tanto ferramenta quanto fetiche.

O caso mais brutal envolvendo piromania foi o de Monara, queimada viva enquanto ainda estava consciente, segundo a polícia. Rildo não apenas a matou – torturou-a de forma sistemática, prolongando seu sofrimento através do fogo. Era uma forma de dominação absoluta sobre a vítima, uma demonstração de poder total sobre a vida e a morte de outro ser humano.

Destruição de evidências

A queima de evidências seguia um padrão meticuloso. Rildo incendiava carros roubados para eliminar impressões digitais e material genético. Queimava as roupas das vítimas para dificultar a identificação. Ateava fogo em objetos que pudessem conectá-lo aos crimes.

Paradoxalmente, sua compulsão por guardar troféus das vítimas acabou se tornando sua perdição. Por mais que destruísse evidências com fogo, não conseguia resistir ao impulso de colecionar lembranças dos crimes. As bolsas, roupas íntimas e objetos pessoais guardados em sua casa formaram o conjunto de provas que permitiu sua condenação.

“Quando fico nervoso, não me controlo”

Os depoimentos de Rildo à Polícia Civil revelam um homem que tenta construir uma narrativa de transtorno mental para justificar seus crimes. Alegava ouvir vozes que o mandavam sair de casa para matar. Dizia não se recordar dos detalhes após cometer os crimes. Afirmava que “quando ficava nervoso, não se controlava”.

Até ser preso, Rildo nunca foi diagnosticado com doenças psiquiátricas. A partir de agora, exames tentarão descobrir se ele tinha plena capacidade de discernir entre o certo e o errado no momento dos crimes. Possíveis alegações de transtorno mental por parte do suspeito podem constituir uma tentativa de simulação para atenuar sua responsabilidade penal.

O próprio padrão dos crimes atribuídos a Rildo indica que será sustentar uma possível tese do transtorno. A escolha sistemática de vítimas vulneráveis, o uso de disfarce para evitar suspeitas, o planejamento dos locais onde atuaria – tudo indica premeditação e consciência plena dos atos praticados.

Vaidade de serial killer

Um dos aspectos mais perturbadores da psicologia de Rildo era sua necessidade compulsiva de retornar aos locais dos crimes, de acordo com investigadores do true crime. Não se contentava em matar – precisava reviver a experiência observando o trabalho da polícia. Era uma forma de prolongar o prazer derivado dos crimes e, simultaneamente, de demonstrar superioridade em relação às autoridades.

Essa vaidade criminosa é um traço comum em serial killers. Sentem-se mais inteligentes que os investigadores e experimentam excitação sexual ao ver a movimentação policial nos locais onde semearam terror. É um comportamento compulsivo que, frequentemente, leva à captura dos criminosos.

No caso de Rildo, foi exatamente essa compulsão que permitiu sua prisão. Se tivesse resistido ao impulso de voltar ao local onde havia assassinado Elisângela, provavelmente continuaria livre e matando. A vaidade foi mais forte que o instinto de autopreservação.

O tratamento das vítimas como “lixo”

Uma das características mais chocantes do perfil psicológico de Rildo era a completa desumanização das vítimas. Segundo os investigadores, ele se referia às mulheres que matava como “lixo descartável”. Não as via como seres humanos, mas como objetos de prazer sádico que podiam ser eliminados após o uso.

Essa desumanização sistemática é fundamental para compreender como um indivíduo consegue cometer crimes tão brutais de forma repetitiva. Ao negar a humanidade das vítimas, o criminoso remove as barreiras morais que normalmente impediriam tais ações. As mulheres se tornam meros instrumentos para satisfação de impulsos violentos.

Falhas do sistema: a falta de comunicação entre as polícias

Um dos aspectos mais preocupantes do caso Rildo é a falha na comunicação entre as polícias da Bahia e de Goiás. Quando ele se mudou para Rio Verde, em janeiro de 2025, já acumulava um histórico de cinco crimes não resolvidos em seu estado natal. Se esses crimes tivessem sido adequadamente investigados e solucionados, Rildo poderia ter sido preso antes de chegar ao Centro-Oeste.

A falta de integração entre os sistemas de segurança pública estaduais permite que criminosos simplesmente se mudem de estado para escapar de investigações. É uma falha sistêmica que se repete por todo o país, facilitando a ação de quem sabe explorar essas lacunas para continuar cometendo crimes.

O delegado Candeo confirmou que a Polícia Civil goiana está tentando obter informações sobre pelo menos dois feminicídios que teriam sido cometidos na Bahia com características semelhantes aos de Goiás. Se confirmados, o número de vítimas de Rildo pode ser ainda maior do que se imagina.

Invisibilidade social das vítimas

Todas as vítimas confirmadas de Rildo compartilhavam características que as tornavam vulneráveis: eram mulheres em situação de rua, dependentes químicas, que circulavam sozinhas durante as madrugadas. Essa vulnerabilidade social não era acidental – era critério de seleção do criminoso.

Mulheres nessas condições têm seus desaparecimentos reportados com menor urgência e investigados com menor prioridade. Essa realidade cria um ambiente propício para a atuação de predadores que sabem identificar vítimas cujo sumiço não gerará pressão imediata sobre as autoridades.

O caso expõe a necessidade urgente de políticas públicas específicas para proteção de populações vulneráveis. Enquanto o Estado não reconhecer essas mulheres como cidadãs plenas, com direito à vida e à segurança, continuarão servindo de alvo preferencial para criminosos como Rildo.

Contraditório e questões em aberto

Um aspecto fundamental em qualquer processo criminal é a garantia do contraditório e da ampla defesa. No caso de Rildo Soares, a Defensoria Pública do Estado de Goiás atuou apenas na audiência de custódia que manteve sua prisão preventiva. Segundo nota oficial do órgão, não faria mais comentários sobre as acusações.

Até o fechamento desta reportagem, não havia sido localizada uma defesa particular para Rildo. Isso significa que ele pode estar enfrentando graves acusações sem assistência jurídica adequada – situação que pode comprometer a validade de seus depoimentos e confissões perante a Justiça.

Do ponto de vista legal, Rildo nega envolvimento em crimes além daqueles que confessou. Quando questionado sobre violência sexual, alega não se recordar, mas admite que “pode ter acontecido”. Essa estratégia de “não recordação seletiva” é comum em casos de serial killers, mas precisa ser analisada pela defesa para verificar se há questões de saúde mental envolvidas.

Investigações em andamento

Embora Rildo tenha confessado três feminicídios, a Polícia Civil de Goiás continua investigando sua possível participação em outros crimes. Há pelo menos dois desaparecimentos de mulheres na região que podem estar conectados a ele. Além disso, investigadores apuram a possibilidade de ele ter cometido outros crimes durante os oito meses em que permaneceu livre em Rio Verde.

O inquérito ainda não foi enviado ao Ministério Público, aguardando a conclusão de diligências complementares. Isso significa que novas acusações podem ser formuladas contra Rildo conforme as investigações avançarem.

Impacto na família do suspeito

O caso gerou trauma não apenas nas famílias das vítimas, mas também nos parentes de Rildo. Os irmãos do criminoso quebraram a televisão da casa da mãe para protegê-la das notícias. Um deles chegou a abandonar o trabalho para cuidar da genitora em tempo integral.

A família toda está sendo ameaçada após a prisão de Rildo, obrigando alguns parentes a se mudarem de cidade. A ex-esposa se sente culpada por não ter percebido os sinais de que convivia com um assassino em série. Todas essas pessoas são vítimas colaterais de um caso que extrapolou os limites do crime individual para se tornar uma tragédia coletiva.

Outros serial killers em Goiás

O caso de Rildo Soares dos Santos não é um fato isolado na história criminal goiana. O estado se tornou, nas últimas décadas, um território fértil para o surgimento de assassinos em série que aterrorizaram a população com métodos brutais e grande número de vítimas.

Legado macabro de Tiago Henrique

Tiago Henrique Gomes da Rocha, o “Maníaco de Goiânia”, estabeleceu entre 2011 e 2014 o padrão de terror que seria seguido pelos criminosos subsequentes. Ex-vigilante, ele atacava de motocicleta, matando dezenas de pessoas escolhidas pela vulnerabilidade social: jovens mulheres, moradores de rua, homossexuais.

Os crimes de Tiago criaram um clima de pânico generalizado na capital goiana. Mulheres deixaram de sair sozinhas, especialmente durante a noite. Boatos se espalhavam diariamente sobre novos ataques. A cidade inteira vivia sob o medo de se tornar o próximo alvo do maníaco da motocicleta.

Condenado a centenas de anos de prisão, Tiago foi avaliado por psicólogos forenses que o classificaram como psicopata incapaz de arrependimento. Sua frieza durante os julgamentos e a total ausência de remorso pelos crimes cometidos estabeleceram o perfil psicológico que seria encontrado em outros serial killers goianos.

José Vicente Matias: canibal de Goiás

O mais perturbador da galeria macabra goiana é José Vicente Matias, conhecido como “Corumbá”, natural de Firminópolis. Entre 1999 e 2005, ele confessou ter assassinado seis mulheres – principalmente turistas estrangeiras – em rituais que envolviam canibalismo e banhos de sangue.

Durante o julgamento, Corumbá confessou ter bebido o sangue e comido o cérebro de uma turista alemã nos Lençóis Maranhenses. Alegava cometer os assassinatos “a mando do diabo”, sob efeito de drogas alucinógenas. Seus crimes combinavam elementos de fanatismo religioso, sadismo sexual e canibalismo ritual.

Condenado a 69 anos de prisão, Corumbá continua sendo lembrado pela extrema violência de seus métodos e pelo simbolismo macabro de seus crimes. Representou o primeiro caso de serial killer canibal documentado em Goiás, estabelecendo um precedente de barbaridade que chocou até mesmo investigadores experientes.

Falhas do Sistema: caso Adimar

Adimar Jesus da Silva expôs de forma brutal as falhas do sistema penitenciário brasileiro. O pedreiro, já condenado por pedofilia, cumpria pena em regime semiaberto quando sequestrou e matou seis adolescentes em Luziânia, em 2010. Todos foram mortos a pauladas e enterrados em uma chácara.

A brutalidade dos crimes e, principalmente, a permissão para que um condenado perigoso circulasse livremente provocaram indignação nacional. O caso evidenciou como a progressão de pena sem avaliação adequada pode colocar a sociedade em risco mortal.

Adimar foi encontrado morto em sua cela apenas oito dias após a prisão, enforcado com uma corda improvisada. Nunca se esclareceu se foi suicídio ou execução por outros presos. Sua morte prematura impediu que se obtivessem informações completas sobre seus métodos e possíveis outros crimes.

Lázaro Barbosa: terror televisionado

Mais recentemente, Lázaro Barbosa protagonizou uma das maiores perseguições policiais da história do Brasil, em 2021. Durante 20 dias, após cometer uma chacina no Distrito Federal, ele se escondeu em matas do Entorno, invadindo propriedades rurais e fazendo reféns.

A cobertura midiática transformou sua fuga em um espetáculo diário transmitido ao vivo pela televisão. Centenas de policiais, helicópteros e drones participaram da caçada humana que mobilizou recursos de múltiplos estados. A população acompanhava obsessivamente cada movimentação da operação.

Lázaro foi morto em confronto com a polícia, mas sua fuga prolongada gerou debates profundos sobre a estrutura das forças de segurança e o simbolismo do medo coletivo. Demonstrou como um único criminoso pode paralisar uma região inteira e dominar a agenda nacional por semanas.

“Novo Lázaro”

Antônio Luís Amorim Barbosa, apelidado de “novo Lázaro”, foi preso em outubro de 2024 em Luziânia. Descrito como andarilho, viveu em constante deslocamento por anos, dificultando sua captura. É suspeito de dez assassinatos entre 2015 e 2024, a maioria contra vítimas vulneráveis encontradas isoladas.

Sua prisão despertou comparações imediatas com Lázaro pela brutalidade dos crimes e pela mobilização policial necessária para capturá-lo. Representou a continuidade de um padrão: Goiás como território de predadores que exploram a vastidão geográfica e os contrastes sociais para escapar da Justiça.

O peso das almas

Rildo Soares dos Santos está preso preventivamente na Casa de Prisão Provisória de Rio Verde desde 12 de setembro de 2025. Responderá por feminicídio, estupro, latrocínio e ocultação de cadáver. As investigações continuam para esclarecer desaparecimentos e possíveis crimes adicionais tanto em Goiás quanto na Bahia.

A Polícia Civil o classificou oficialmente como “criminoso em série”, seguindo parâmetros internacionais estabelecidos pelo FBI. O caso representa um marco na criminalidade goiana e levanta questões fundamentais sobre prevenção, investigação e proteção de populações vulneráveis no Brasil.

As famílias das vítimas ainda buscam respostas. A mãe de Ingrid quer saber onde está o corpo da filha. Os parentes de Neilma questionam por que seu desaparecimento não foi tratado com a urgência necessária. A família de Elisângela tenta entender como um homem aparentemente comum pôde cometer tamanha barbaridade.

Do outro lado, a família de Rildo também busca compreender como alguém que parecia normal pôde se transformar numa possível máquina de matar. A ex-esposa carrega a culpa de não ter percebido os sinais. Os irmãos protegem a mãe das notícias. Todos são vítimas colaterais de uma maldade que extrapolou os limites individuais para se tornar tragédia coletiva.

Este caso encerra uma sequência de oito meses de terror em Rio Verde, mas abre questões que permanecerão sem resposta por muito tempo. Como a sociedade brasileira pode proteger suas populações mais vulneráveis? Como evitar que criminosos simplesmente se mudem de estado para escapar da Justiça? Como identificar serial killers antes que completem seu ciclo de morte?

As respostas não virão facilmente. Enquanto isso, Rio Verde tenta se recuperar do trauma de ter convivido com um provável monstro disfarçado de trabalhador honesto. E o Brasil inteiro se pergunta: quantos outros Rildos existem por aí, carregando o peso de almas que apenas eles conhecem?

A investigação continua. A busca por justiça também. Mas para Elisângela, Monara, Alexânia e todas as outras mulheres que cruzaram o caminho de Rildo Soares dos Santos, é tarde demais. Elas se tornaram parte do peso que ele carregava. E agora, eternamente, fazem parte da memória dolorosa de um Brasil que não aprendeu a proteger quem mais precisa de proteção.

FAQ

Quem é Rildo Soares?

Rildo Soares dos Santos, 33 anos, natural de Salvador, chegou a Rio Verde em janeiro de 2025 após deixar a Bahia. Trabalhava temporariamente como gari para obter uniformes, o que lhe permitia circular à noite sem chamar atenção. Casado e com vida aparentemente comum — carteira assinada e título de eleitor —, ele acumulava um histórico de violência e é apontado em inquéritos na Bahia como possível autor de cinco homicídios não resolvidos desde 2017.

O que motivou os crimes?

Os feminicídios de Rildo seguiam um padrão: vítimas vulneráveis (dependentes químicas, mulheres em situação de rua ou que circulavam sozinhas de madrugada), uso de disfarce para abordagem e brutalidade extrema — esganadura, espancamento e, em ao menos um caso, queima com fogo. Investigação tenta saber se ele tem algum problema psiquiátrico ou age por impulsos perversos e clara desumanização das vítimas.

Como a Polícia Civil de Goiás identificou o suspeito?

A Polícia Civil de Goiás identificou Rildo após perícia de imagens de câmeras de segurança que mostraram a vítima conduzida a um terreno baldio. No dia seguinte a um homicídio, ele ele voltou ao local para observar o trabalho dos investigadores. Essa vaidade criminosa levou à sua prisão em flagrante no dia 12 de setembro, quando foi avistado pelos policiais do outro lado da rua.

Quais foram as vítimas confirmadas?

Elisângela Silva de Souza (26 anos), Monara Pires Gouveia Moraes (31 anos) e Alexânia Hermógenes (40 anos) foram oficialmente reconhecidas como feminicídios cometidos por Rildo Soares em Rio Verde, segundo a polícia. Há ainda desaparecimentos de Ingrid Ferreira (38 anos) e Neilma de Souza Carvalho (43 anos) sob investigação.

Qual era o padrão de seleção das vítimas?

Rildo escolhia mulheres em situação de vulnerabilidade: dependentes químicas, em situação de rua ou que circulavam sozinhas na madrugada. Usava o uniforme de gari para se aproximar sem levantar suspeitas e avaliava o terreno de madrugada, garantindo impunidade inicial.

Onde ocorreu o crime de Elisângela e como foi descoberto o corpo?

Elisângela foi morta em um terreno baldio que servia de lava-jato desativado. O corpo foi encontrado enterrado em um buraco de cimento, parcialmente coberto por pedras e terra, no dia 11 de setembro de 2025, pela Polícia Civil de Goiás durante perícia no local.

Como a prisão de Rildo influenciou outras investigações?

A captura permitiu apreender troféus das vítimas — bolsas, celulares e roupas íntimas — e abriu novas linhas de investigação na Bahia, onde Rildo é apontado em inquéritos desde 2017. A Polícia Civil de Goiás solicitou cooperação à polícia baiana para confirmar cinco homicídios não resolvidos.

Qual o status atual do processo e das investigações?

Rildo está preso preventivamente na Casa de Prisão Provisória de Rio Verde desde 12 de setembro de 2025. Responderá por feminicídio, estupro, latrocínio e ocultação de cadáver. O inquérito aguarda diligências complementares antes de ser remetido ao Ministério Público, com possibilidade de novas acusações.

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